Gentle Giant, Camel, King Crimson, ELP, Jethro Tull, Yes e Pink Floyd – Álbum #4
- Caio Alves
- 9 de jul. de 2024
- 5 min de leitura
Sequência prioriza músicas com finais grandiosos
Giant – Gentle Giant (1970)
Como em uma auto apresentação da banda e do próprio estilo, o Gentle Giant abre seu álbum de estreia com a canção Giant, trazendo versos que anunciam a vinda de um gigante, “O nascimento de uma realização/ O surgimento de uma grande expectativa”. Otimistas consigo mesmos, os membros Derek, Phil e Ray Shulman, junto de Gary Green, Kerry Minnear e Martin Smith constroem uma sonoridade épica e progressiva, nas devidas proporções, a saber o que o grupo seria capaz de fazer futuramente. Embora a qualidade da gravação deixe a desejar, os musicistas elaboram excelentes arranjos, influenciados pelo rock sinfônico, que pode ser conferido no mellotrom e instrumentos de sopro, e jazz, principalmente no baixo, bateria e guitarra.
Air Born – Camel (1976)
Contrastando com a agitação da faixa anterior dessa sequência, Air Born traz a calmaria da flauta, violão e guitarra de Andrew Latimer, teclados de Pete Bardens, além da cozinha suave defendida por Doug Ferguson no baixo e Andy Ward na bateria. Com um vocal repleto de efeito, característica herdada do álbum anterior do Camel, Mirage, Latimer canta sobre a experiência de voar. Durante o momento em que os teclados protagonizam um riff/solo que antecede o final da faixa, a banda, não ironicamente, remonta a melodia de Flying, do álbum Magical Mystery Tour (1967), dos Beatles; tal parte é coerente com a letra, visto que a instrumentação realmente soa como um voo.
Exiles – King Crimson (1973)
Um dos destaques do álbum Lark’s Tongues in Aspic, Exiles traz a sonoridade da melancolia, representada, sobretudo, pelo violino (David Cross) e mellotrom (Robert Fripp), que têm como base o violão (Fripp), bateria (Bill Bruford), baixo e vocal (John Wetton), complementados, ainda, por alguns momentos de flauta (Cross) e um solo de guitarra (Fripp), ao final. Escrita por Richard Palmer-James, ex-membro da banda Supertramp, a letra autobiográfica retrata o sentimento que o próprio sentiu quando se mudou do Reino Unido para a Alemanha; o eu lírico enxerga as coisas boas do novo local onde vive, mas convive com a saudade da terra natal. O vocal quase desafinado de Wetton é decisivo para refletir a tristeza contida na letra.
Bitches Crystal – Emerson, Lake & Palmer (1971)
Música que mais se aproxima da faixa-título do álbum Tarkus, com seu ritmo majoritariamente frenético, composto pelos teclados (Keith Emerson), baixo (Greg Lake) e bateria (Carl Palmer), Bitches Crystal apresenta, por meio do vocal enérgico (Lake), diversas metáforas que dizem respeito às desgraças que assolam o mundo. Como de praxe, Emerson se destaca com suas diversas frases e solos repletos de camadas de teclado, sintetizador e minimoog, embora Lake e Palmer sejam imprescindíveis na construção dos momentos épicos.
Nothing is Easy – Jethro Tull (1969)
Ainda distante da sonoridade, de fato, progressiva dos anos que viriam, o Jethro Tull cria, em Nothing is Easy, composta por Ian Anderson, uma mistura de hard rock com blues rock, trazendo uma letra a qual funciona como um conselho motivacional para quem se encontra aflito com a rapidez e dificuldades do mundo. No instrumental, destacam-se a bateria de Clive Bunker, que remonta o peso do hard rock, e a flauta versátil de Anderson; enquanto Glen Cornick faz o “feijão com arroz” no baixo, Martin Lancelot Barre se esforça para performar frases e solos grandiosos na guitarra, mas esbarra na inspiração escassa.
Yours is no Disgrace – Yes (1971)
Primeira amostra do talento de Steve Howe, guitarrista que havia recém-chegado ao Yes, após a saída de Peter Banks, Yours is no Disgrace, creditada a todos os membros da banda, traz variações melódicas mais notáveis, em comparação com o disco precedente da banda, Time and a Word (1970), em que o grupo é apoiado por arranjos de orquestra. Com frases e riffs pesados de guitarra, linhas virtuosas de baixo (Chris Squire), sonoridade fantasmagórica do órgão (Tony Kaye), precisão e versatilidade da bateria (Bill Bruford) e harmonia de vocais (Jon Anderson, Squire e Howe), o Yes se aproxima do estilo clássico pelo qual seria conhecido nos lançamentos posteriores. Estruturada em pelo menos seis momentos distintos durante os quase dez minutos de duração, a canção conta com uma letra a qual aconselha o ouvinte a não pegar para si todas as dores e desgraças do mundo. O arranjo de sintetizador ao final oferece uma ligação progressiva à próxima faixa da presente sequência de músicas.
Pantagruel’s Nativity – Gentle Giant (1971)
Inspirados no romance “Os feitos e as façanhas horríveis e apavorantes do renomado Pantagruel, Rei dos Dipsodos, filho do Grande Gigante Gargantua” (1532), de François Rabelais, os irmãos Shulman e Minnear compõem Pantagruel’s Nativity, que abre o segundo disco do Gentle Giant, Acquiring the Taste. A canção conta sobre o nascimento e crescimento de Pantagruel, que se tornou um ser de força incalculável, temperamento instável e detentor de poder e glória; no primeiro e último versos, Minnear performa, com vocal angelical, o sentimento confuso vivido pelo gigante Gargantua, que viu Badabec, mãe de seu filho, morrer durante o parto de Pantagruel.
Musicalmente, a banda apresenta um avanço no quesito progressivo, em relação ao disco de estreia, com utilização de várias camadas de instrumentos em um mesmo momento, lapidação de rápidas mudanças de riff e sonoridade e sucessão de solos. Destaca-se, também, a harmonização de vocais durante os versos “Pantagruel nasceu, a terra estava seca e ardente/ No Paraíso, a querida Badabec reza por ele”, que oferecem tonalidade épica e renascentista, esta última em coerência com a letra, já que se baseia em um romance do século XVI.
Echoes – Pink Floyd (1971)
O “ping” de um submarino o qual ressoa pelas incertezas oceânicas introduz Echoes, o primeiro grande passo, de fato, do Pink Floyd em direção ao rock progressivo, considerando que a música Atom Heart Mother, de 1970, trata-se de um grandioso rock sinfônico em que o orquestrador Ron Geesin tem bastante crédito na criação. Por meio do famoso dueto entre David Gilmour (guitarra) e Richard Wright (teclados) nos vocais, a composição utiliza-se da poesia para falar, inicialmente, sobre algo que está emergindo do oceano em direção à luz, fazendo tremer a terra, e depois do encontro entre dois estranhos, que passam a viver juntos; tal “criatura” que surge das profundezas pode ser a representação do amor e reconhecimento entre essas duas pessoas. Para tal composição, são muitas as possíveis interpretações, porém é fato que se trata de uma das músicas mais épicas e bem construídas do Floyd.
Durante seus mais de 23 minutos, Echoes possui algumas variações, sendo tecida de maneira que os musicistas preparam o ouvinte para algo épico, através de riffs de guitarra, órgão (Wright) e baixo (Roger Waters), solos inspirados e bateria (Nick Mason) essencial às seções de crescimento; em meados da faixa, Gilmour emula a comunicação entre as criaturas submarinas por meio da guitarra, acompanhado do fundo “abafado” e psicodélico, que denota a ideia de que o ouvinte está debaixo d’água. Após retornar à calmaria do início, a música se encaminha ao fim com a crescente de sons que referenciam a queda lenta nas profundezas do oceano, fazendo com que as notas do restante da banda diminuam a cada segundo – um final apropriado a um homérico.
Confira a sequência na playlist The Endless Progressive, disponível nas principais plataformas de streaming.
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