Gentle Giant, Yes, ELP, King Crimson, Camel, Soft Machine e Rush – Álbum #2
- Caio Alves
- 5 de jun. de 2024
- 7 min de leitura
Bandas essenciais e contraste entre o pesado e a calmaria; ao final, amostra do prog rock canadense
The Runaway – Gentle Giant (1973)
Após um início de carreira fabuloso, o Gentle Giant chega no que é considerado por muitos o melhor trabalho em estúdio da banda, o álbum In a Glass House, de 1973. Apesar da saída do cofundador Phil Shulman, após Octopus, de 1972, o Giant consegue construir um disco conceitual coeso e repleto de virtuosismo, característica intrínseca à banda. A faixa The Runaway, que abre o álbum, inicia com o quebrar de vidros e segue com dedilhados e riffs de guitarra (Gary Green), órgão, piano elétrico e moog (Kerry Minnear), e baixo (Ray Shulman), acompanhados pela voz (Derek Shulman) e bateria (John Weathers). Além dos riffs diversificados, a música traz a performance de Minnear no solo rápido de marimba e as harmonias vocais corriqueiras em canções do Giant. Já a letra, escrita por Derek, Ray e Minnear, diz sobre a corrida infinita pela descoberta do sentido da vida, usando como representação um fugitivo, que está sempre tentando escapar da falsa e vazia alegria.
Starship Trooper: a. Life Seeker, b. Disillusion, c. Würm – Yes (1971)
A primeira suíte da história do Yes contém três partes com sonoridades diferentes, sendo que a primeira soa como espacial, devido aos arranjos de guitarra (Steve Howe), órgão (Tony Kaye) e baixo (Chris Squire), a segunda como um folk ligeiro embalado pelo violão (Howe), e a terceira retornando para a viagem no espaço com os riffs de guitarra e demais instrumentos, finalizando com uma crescente épica que culmina com um solo de pergunta e resposta composto pelo guitarrista. O vocal de Jon Anderson narra, de maneira poética, a ansiedade de um viajante espacial, que sente falta de seus dias na Terra, discutindo ainda o tema da solidão; pode-se decifrar que a última parte representa a volta desse viajante para casa. Tal faixa é um dos destaques de The Yes Album, que levou, definitivamente, a banda ao sucesso.
Take a Pebble – Emerson, Lake & Palmer (1970)
Com Keith Emerson abrindo a música, inusitadamente tocando as cordas do piano em vez das teclas, o ELP grava um dos momentos mais serenos de todo o primeiro álbum homônimo de estúdio da banda. O canto angelical e o baixo de Greg Lake são acompanhados pela caprichosa bateria de Carl Palmer, contrastando, em certos momentos, com a rapidez de Emerson no piano. Na maior parte do tempo, a canção é composta por instrumentais de violão (Lake) e arranjos em que o piano é o destaque, proporcionando instantes que lembram o jazz. No quesito lírico, Lake escreve, de maneira poética, complexa e pessimista, sobre como pequenas coisas na vida podem desencadear sentimentos ruins.
I Talk to the Wind – King Crimson (1969)
Lembrado, muitas vezes, pela versatilidade e criatividade, o King Crimson é uma banda eficiente tanto nas músicas mais pesadas quanto nas composições mais calmas. Tal contraste pode ser conferido em In the Court of the Crimson King, álbum de estreia do grupo, com I Talk to the Wind dando sequência ao peso da primeira faixa do disco. Nessa canção, destacam-se as flautas e o vocal de Ian McDonald, o vocal principal de Greg Lake e a bateria incomum tocada por Michael Giles; Robert Fripp ainda grava, com a guitarra, algumas frases no refrão e um solo em meados da música. Escrita por McDonald e Peter Sinfield, a letra diz respeito à tentativa falha de falar com deus, em um mundo onde reinam a desilusão e a confusão.
Epitaph (including “March for No Reason” and “Tomorrow and Tomorrow”) – King Crimson (1969)
O tremor produzido pela bateria dá início à próxima faixa, assim como no álbum. Trazendo em destaque a sonoridade misteriosa do mellotrom (McDonald), marca registrada da banda, Epitaph, inicialmente, é levada pelo baixo e bateria, sendo, mais à frente, complementada pelo violão (Fripp) e mellotrom; no refrão, o órgão, piano e a guitarra aparecem, fazendo base para a profunda frase entoada por Lake: “Confusão será o meu epitáfio”; a áurea produzida no momento em que o mellotrom acompanha o verso “Eu temo que amanhã estarei chorando” é um dos pontos altos de todo o primeiro álbum do Crimson. Creditada a todos os membros do grupo, a composição é complexa e pode ser interpretada de diferentes maneiras, a exemplo de pessimismo quanto ao futuro, perturbação mental e visão apocalíptica.
Supertwister – Camel (1974)
Faixa dois do segundo álbum de estúdio do Camel, a composição se trata de um rápido instrumental escrito pelo tecladista Peter Bardens, embora o destaque fique com as frases de flauta, gravadas por Andrew Latimer. Por sua vez, os demais instrumentos, teclado (Bardens), baixo (Doug Ferguson) e bateria (Andy Ward), trabalham na construção da base para o brilho em forma de melodia trazido pela flauta, que é capaz de produzir um sentimento de paz sem igual, configurando em uma das canções mais bem quistas do álbum Mirage. Ao final da música, é possível ouvir alguém servindo alguma bebida – provavelmente, café.
Schooldays – Gentle Giant (1972)
Um dos destaques do primeiro álbum conceitual e terceiro de estúdio do Giant, que trata da história de três amigos de infância que acabam se separando por conta das decisões da vida adulta, Schooldays trata do período de escola desses três amigos, que imaginavam ficariam juntos para sempre, trazendo, no final, o momento da separação deles. A canção inicia com o riff diferenciado de vibrafone (Minnear) e guitarra (Green), oferecendo um tom de nostalgia; Minnear também divide os vocais partidos ao meio com Phil, e Green ainda toca mandolin, Ray grava linhas virtuosas no baixo e Malcolm Mortimore se encarrega da bateria e percussão. O auge da faixa é quando Minnear traz a mudança total com o piano, mellotrom e a voz, introduzindo a seção sobre a desunião dos amigos; tal parte ainda conta com o convidado Calvin Shulman realizando o vocal de criança. No fim, logo depois do solo veloz de Minnear no vibrafone, os músicos retornam à lógica musical do início para, em seguida, encerrar de maneira calma, proporcionando a ideia de um final triste em que cada amigo segue o próprio caminho.
From the Beginning – Emerson, Lake & Palmer (1972)
Harmônicas de violão (Lake) dão início a um dos maiores clássicos do ELP, trazendo o lado mais pop da banda, embora o tom progressivo ainda se apresente com as linhas de baixo de Lake e o solo de minimoog de Emerson, acompanhados pela percussão tropical criada por Palmer. Escrita e cantada por Lake, a letra apresenta um eu lírico que reflete sobre alguns de seus atos impulsivos em relação à outra pessoa, aparentando estar arrependido disso. Tal composição contém uma sonoridade voltada mais ao folk e música acústica, algo corriqueiro em lançamentos anteriores e futuros do grupo, a exemplo das faixas Lucky Man (1970), Still... You Turn Me On (1973) e C’est La Vie (1977).
Gone Sailing – Soft Machine (1975)
Faixa curta e instrumental composta e gravada pelo membro Alan Holdsworth, que grava um violão de 12 cordas, Gone Sailing fecha o lado A do disco de jazz fusion Bundles, depois de todo o peso apresentado nas cinco partes da suíte Hazard Profile, em que o próprio Holdsworth é um dos destaques com a guitarra. As harmônicas de violão se casam perfeitamente com o que vem a seguir no Endless Progressive.
And You and I: I. Cord of Life, II. Eclipse, III. The Preacher, the Teacher, IV. The Apocalypse – Yes (1972)
Introduzida pelas harmônicas de Steve Howe, que mais parece estar conferindo a afinação de seu violão de 12 cordas, a faixa é levada, em grande parte, pela sonoridade acústica proporcionada pelo violonista e pela voz de Jon Anderson, que escreveu a letra sobre “um conto da busca pela verdade e pureza entre duas pessoas”, de acordo com o próprio compositor. Após a introdução folk, os vocais com efeitos dão um tom psicodélico à música, sendo seguido pelo ápice composto por Bruford na bateria, acompanhado pelo mellotrom, minimoog e órgão Hammond de Rick Wakeman, o baixo pontual de Squire e algumas frases feitas na guitarra por Howe. Na parte final, a banda apresenta uma variação no ritmo e na letra, repete a parte épica e encerra de maneira quase totalmente acústica, com Anderson cantando a memorável estrofe: “E você e eu subimos, cruzando as formas da manhã/ E você e eu alcançamos o sol para o rio/ E você e eu subimos, mais claros em direção ao movimento/ E você e eu chamamos vales de mares intermináveis”.
2112: I. Overture, II. The Temples of Syrinx, III. Discovery, IV. Presentation, V. Oracle: The Dream, VI. Soliloquy, VII. Grand Finale – Rush (1976)
Representando, de fato, o primeiro grande paço progressivo na carreira da banda canadense Rush, depois do flerte com o subgênero em Caress of Steel, álbum de estúdio anterior, 2112 é uma composição de mais de vinde minutos dividida em sete partes. Introduzida pelo som de naves espaciais emulado por um sintetizador ARP Odyssey, que é tocado pelo músico convidado Hugh Syme, a música é construída pelas melodias compostas pelo guitarrista Alex Lifeson e vocalista e baixista Geddy Lee, hora com riffs pesados, hora com frases mais calmas.
Influenciada pela escritora e filósofa Ayn Rand, a letra escrita pelo baterista Neil Peart trata de uma história de ficção científica ambientada em uma cidade futurista chamada Megadon, que passou a ser governada pela Federação Solar, assim como todo o restante do planeta Terra, após uma guerra intergaláctica ocorrida em 2062; nessa localização, vive o protagonista da canção, que em determinado momento encontra uma guitarra perdida; ele, então, aprende a tocar o instrumento e resolve mostrar o achado aos profetas dos Templos de Syrinx, mas o objeto é ridicularizado e destruído, por se tratar de algo que cria música, ou seja, uma perca de tempo para eles, que querem implantar a hegemonia dos computadores em Megadon; deprimido por não poder viver na mesma época do auge da produção musical pelas civilizações, o protagonista adormece e tem um sonho de que os homens irão invadir a galáxia e reclamar a posse do planeta, porém ele se suicida antes disso se concretizar; ao final, os homens invadem e conquistam todos os planetas da Federação Solar, alertando: “Atenção todos os planetas da Federação Solar/ Nós assumimos o controle”.
Confira a sequência na playlist The Endless Progressive, disponível nas principais plataformas de streaming.
Comments